Riscos geológicos e inexperiência podem comprometer a execução de obra no Portão do Inferno
A construção de um túnel no Portão do Inferno é tecnicamente viável, mas está longe de ser simples. Após ser anunciado, há três semanas, como alternativa por inviabilidade do primeiro projeto, pelo governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, ainda não foi finalizado o anteprojeto da obra, documento que define viabilidade técnica, ambiental e econômica, com informações sobre traçado, estrutura, custos e prazos.
Na última quinta-feira (17), no entanto, a construção do túnel foi colocada em xeque pelo próprio secretário de Estado de Infraestrutura, Marcelo de Oliveira, surpreendendo o próprio governador. Enquanto nenhum detalhe técnico é divulgado oficialmente, a escolha pelo túnel gera divergências e incertezas também entre especialistas, diante dos riscos geológicos, escassez de mão de obra especializada na região e inexperiência do Estado com obras desse porte, que podem comprometer a execução do projeto.
Presidente do Comitê Brasileiro de Túneis e Espaços Subterrâneos, o engenheiro civil Jean Pierre Ciriades defende que um túnel pode resolver o problema, apesar de algumas ressalvas. Por outro lado, o geólogo Caiubi Kuhn defende que a construção de um viaduto sempre foi a melhor alternativa para o local.
Jean Pierre explica que, em geral, obras nessas condições apresentam desafios logísticos, como a instalação de canteiros e equipamentos. Além de interferências com a rodovia, diante de um tráfego intenso de equipamentos que podem causar desconforto aos usuários, danos potenciais ao pavimento e sujidades, que devem ser controladas pelos executantes da obra.
O engenheiro ainda cita a geração de vibrações no processo de escavação a fogo, as detonações, que podem gerar instabilizações dos materiais presentes na superfície. Os responsáveis pelo plano de fogo e detonações deverão monitorar e controlar as vibrações, frequências e velocidade pico de partículas, e mitigar quedas de blocos, evitando que haja pessoas passando nas proximidades durante estes eventos.
Apesar de não conhecer especificamente as características da região, Jean Pierre defende que os túneis são soluções extremamente eficazes e confiáveis do ponto de vista de resiliência climática, geológica e geotécnica. Os únicos pontos potencialmente vulneráveis em termos de escorregamentos e quedas de bloco são os emboques.
Túneis bem dimensionados, com essas entradas posicionadas em locais de menor probabilidade de ocorrência desse tipo de evento, garantem a estabilidade das escavações ao longo de seu percurso. Neste sentido, eles podem, sim, ser considerados uma solução definitiva para o problema.
O engenheiro comenta que a construção de túneis é uma atividade com riscos inerentes ao processo, independente dos cuidados tomados. E pontua que não existe risco zero. Contudo, a partir de estudos e um projeto consistente, com os devidos controles executivos, estes riscos podem ser qualificados, quantificados e mitigados em grande parte. Já o comportamento de encostas naturais, em particular aquelas onde há presença de material rochoso instável, pode se tornar uma roleta russa.
Desta forma, é esperado que os desmoronamentos fora do túnel continuem a ocorrer, durante e após as obras, o que demandará cuidados da equipe responsável pela obra para minimizar a exposição de colaboradores a estas regiões de risco, ao passo que no interior do túnel teríamos um ambiente garantidamente muito mais seguro, principalmente quando estiver em operação.









