Rio é o principal destino de fugitivos faccionados de Mato Grosso
Planos de fugas que chegam a custar até R$ 500 mil e destino de guarida quase sempre o mesmo, regiões de luxo ou morros cariocas. Fugitivos do sistema prisional em Mato Grosso têm escolhido, na maioria, o Rio de Janeiro para se “esconderem”. Apesar do Comando Vermelho de Mato Grosso ser um “braço” independente da organização criminosa carioca, a “acolhida” seria como uma “troca de favores”, muito vantajosa aos criminosos do Rio de Janeiro, é o que explica o promotor de Justiça e coordenador-geral do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), Adriano Roberto Alves.
“Grande parte dos presos que vão para semiaberto, por exemplo, rompem a tornozeleira e fogem para o Rio de Janeiro. Muitas favelas lá estão servindo de abrigo de algumas lideranças do Comando Vermelho de outros estados. Em Mato Grosso, apesar do CV não ser ligado ao do Rio de Janeiro, os criminosos que fogem daqui pagam para ficar lá e para os caras de lá é interessante. E com o tempo os faccionados de Mato Grosso começam a mandar drogas para lá e armamento”, explica o promotor.
Alves frisa que a maioria dos faccionados se esconde nos “morros”, onde é mais difícil da segurança de Mato Grosso “subir”. A minoria fica na parte de baixo, nos ditos locais luxuosos. Mesmo com todas as dificuldades, o coordenador do Gaeco destaca que as prisões estão acontecendo.
No domingo (24), três integrantes da facção criminosa mato-grossense foram surpreendidos em um apart-hotel localizado no bairro Copacabana, quando retornavam da praia. A prisão foi efetuada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ), após informações repassadas pelo Núcleo de Inteligência (NIO) da Polinter em Mato Grosso. Alecsandro Santiago da Cruz, André Valber Alves de Macedo Nunes Silva e Bruno Ojeda colecionam uma longa ficha criminal. Ojeda fugiu da Cadeia Pública de Nova Mutum.
Durante a fuga, chegou a dopar uma policial penal. Possui passagens por roubo, ameaça, associação e tráfico de drogas, desacato e posse de arma de fogo. Informações preliminares apontam que Ojeda, inclusive, planejou a fuga, em dezembro de 2023, de Alecsandro da Penitenciária Central do Estado (PCE), que responde por posse de arma e roubo. André era foragido da Gerência de Custódia, localizada em Cuiabá, e possui antecedentes por roubo, ameaça, furto, tráfico de drogas, homicídio doloso e lesão corporal.
Facções dos 2 estados realizam ‘intercâmbio’
Sociólogo e especialista em Segurança Pública, o professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos, comenta que a rota de fuga dos criminosos mato-grossenses para o Rio de Janeiro está exatamente na “segurança” garantida nos morros cariocas. Para que esse esquema funcione, há um intercâmbio entre as facções dos dois estados, que apesar de ter o mesmo nome, funcionam de “forma independente”.
“No Rio de Janeiro tem as facções e eles se escondem nos morros, porque a polícia raramente sobe nos morros. E lá eles recebem a proteção de pessoas ligadas ao comando e a facção que ele tem aqui em Mato Grosso. Lá ele fica foragido, digamos assim, ao mesmo tempo trabalhando lá para a facção dele. É uma forma de esconder os comparsas, os membros da facção e fazer um intercâmbio de estratégia de ações. Aproveita e trabalha lá para a facção e ao mesmo tempo fica escondido até baixar a poeira e voltar para o estado de origem, por lá ficar ou ir para outro estado”.









