Por Gazeta Digital
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18 de agosto de 2025
Golpe que registra vítimas desde 2022 utiliza dados públicos de pessoas com processos em andamento para enviar mensagens falsas, mas com informações verdadeiras, segue tomando dinheiro de mato-grossenses. Na modalidade, os golpistas se passam pelos advogados contratados das vítimas a fim de conseguir pagamentos que seriam decorrentes nas ações movidas. Desde 2023, já foram registrados mais de 2 mil boletins de ocorrência de casos de fraude semelhantes e, essa semana, uma vítima teve sua conta invadida e perdeu cerca de R$ 7 mil, em Cuiabá. Conhecido como o golpe do “falso advogado”, os criminosos criam perfis falsos dos profissionais ou escritórios contratados pela vítima em processos e enviam mensagens alegando que a causa foi ganha. Contudo, para receber a indenização, é necessária alguma outra ação, como pagamento ou o informe de um código. Uma mulher, que preferiu não se identificar, foi vítima e encaminhou seu relato. Com um processo em trâmite desde 2023, ela recebeu mensagem de um perfil com informações idênticas as de sua advogada. O perfil afirmava que ela tinha ganhado a causa, mas que deveria falar com o juiz responsável para receber o valor de R$ 15 mil. “Ela disse que era referente ao meu processo de 2023, falou todas as informações referentes ao meu processo, inclusive mandou o anexo dele no meu WhatsApp, informando que eu tinha ganhado a causa”, contou a mulher. No momento em que recebeu a mensagem, ela estava trabalhando e os golpistas pediam agilidade a todo momento, pois se não fosse resolvido na hora, ela corria o risco de perder o suposto pagamento. Ao entrar na chamada de vídeo, um homem que se passava por juiz confirmou seus dados e, em seguida, pediu para ela acessar a conta bancária e verificar se o recebimento tinha ocorrido. Como se tratava de um golpe, nenhum dinheiro foi creditado, momento em que foi enviado um código para ela. Ao passar o código, a vítima teve sua conta invadida e todo o dinheiro retirado. “Uma hora eu desconfiei e questionei. Ele [o falso juíz] me falou ‘você está falando com o juiz, você está quase desacatando uma autoridade’, então pediu para eu falar com a advogada e confirmar, mas como ela também era falsa, me disse que eu poderia seguir com a transação sem problemas”, afirmou. O Delegado Vinícius de Assis Nazário, da Delegacia Especializada de Estelionato de Cuiabá, explicou que, no caso do golpe aplicado à vítima no início da semana, a videochamada com uma pessoa caracterizada como autoridade serve para passar mais credibilidade para o alvo, o que contribui para maior chance de “sucesso” no golpe. Ele afirmou, ainda, que muitas vezes a chamada de vídeo é utilizada como forma de capturar a biometria facial da vítima. “Em alguns casos a videochamada está sendo utilizada para a abertura de contas correntes digitais com a biometria facial e, em seguida, são feitos empréstimos em nome da vítima. Em outros casos, os golpistas pedem os dados bancários das vítimas, cópia de extrato bancário e depois enviam links, com isso conseguem acesso às contas das vítimas e fazem transferências de quantias em dinheiro”, afirmou Nazário. As formas de golpe são cada vez mais aperfeiçoadas e alteradas. Já foram registrados casos da aplicação simultânea, por exemplo, do golpe do “falso advogado” com o da “falsa central”, quando os golpistas utilizam códigos para acessar o aplicativo bancário como o titular da conta. Desde 2023 já foram registrados mais de 2 mil boletins de ocorrências com características semelhantes ao golpe denunciado. Esse tem sido uma das fraudes digitais mais recorrentes no estado. “Muitos desses casos apresentam elementos comuns: nomes de advogados verdadeiros, processos reais e utilização de contas bancárias de terceiros, os chamados ‘laranjas’ ou ‘conteiros”, explicou Nazário. Como se prevenir? O delegado orientou que é preciso desconfiar de qualquer contato repentino que envolva transações financeiras. Caso seu escritório ou advogado entre em contato com um número diferente, é importante que se confirme a identidade. Isso pode ser feito por outras formas confiáveis, como e-mail institucional, visita ao escritório ou até mesmo por ligação. Códigos recebidos nunca devem ser compartilhados, mesmo que a pessoa pareça confiável. Casos em que é solicitada urgência ou pressa também é um sinal de golpe. Se a atividade parecer suspeita e levantar dúvidas, procure seu advogado pessoalmente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) fez alerta também que sabe dos golpes desde 2022 e que sugere, aos próprios advogados, que instruam seus clientes com relação à possibilidade. É importante que o advogado e cliente mantenham meios confiáveis de comunicação e que o cliente esteja informado em casos de alterações para evitar a situação. Caí em um golpe, como proceder? A primeira etapa é entrar em contato com seu banco e solicitar o bloqueio emergencial das transações, em seguida requerer a rastreabilidade do pix para identificar contas de destino. “Algumas vítimas conseguem restituição judicial ou extrajudicial, especialmente quando o banco falhou em mecanismos de segurança”, explicou Nazário. Além disso, é importante registrar um boletim de ocorrência para que investigações sejam iniciadas e criminosos sejam responsabilizados. “A Polícia Civil tem feito operações para recuperar valores e prender integrantes das quadrilhas. Mas quanto mais cedo a vítima age, maiores as chances de sucesso”, finalizou o delegado.